sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Trekking na Serra Nevada - Out 2009



Fotos da Viagem.


GPS da viagem.


Descrição.
2 de Out.
Chegava o grande dia da viagem, sendo fim de semana grande eu e o Pedro decidimos jantar por Lisboa de forma a deixar escoar o transito. Fizemo-nos à estrada por volta das 21:30 e mesmo assim sentia-se movimento em direcção ao Sul. Saimos em Beja e seguimos em direcção a Serpa e daí para a fronteira; a 1ª terra espanhola a aparecer foi Rosales de la Frontera.
A viagem decorreu sem grandes sobressaltos, o nosso objectivo era conseguir passar Sevilha, o que foi conseguido à base de algumas paragens de descanso. Por volta da 2 da manha encostamos numa estação de serviço e após comer algo; ficamos a dormir no carro. A Kangoo é sempre confortavel depois de 1 dia de trabalho e 5 horas de condução.
3 de Out.
Acordamos, tomamos o pequeno-almoço e fizemo-nos ao caminho ... o dia estava solarengo e hoje chegariamos ao nosso destino.
Depois de passar Granada, apanhamos a auto-estrada para Motril e a Serra Nevada já nos acompanhava. Finalmente iniciamos a estrada de curva e contra-curva, já cheirava a montanha.
O estomago pedia comida e nós cedemos ao seu apelo, escolhemos um restaurante com pinta de ter boa comida e com uma bela vista sobre o vale. Sabiamos que dentro de poucas horas estariamos a caminhar e como tal aproveitamos e saboreamos cada garfada.
Depois de mais umas curvas e contracurvas, chegamos a Trevelez ... bolas que é longe de tudo !!!
Estacionamos a Kangoo, despedimo-nos dela e colocamos as mochilas às costas. Tudo o que iriamos precisar nos proximos dias estava colocado sobre os nossos ombros ... sensação maravilhosa.
Depois de encontrar o trilho para as 7 Lagunas, iniciamos lentamente a subida. Cada passada afastava-nos do ruido citadino, cada passada fazia esquecer o rame rame do trabalho, cada passada fazia vir ao de cima o nosso lado selvagem e livre, de quem anseia dormir ao relento, sentir o silencio ensurdecedor do vale e pensar que por momentos somos felizes e realizados.
Foi com estes pensamentos em mente que iamos progredindo, Trevelez, essa vila branca, parecia cada vez mais um pequeno pigmento no meio do verde envolvente.
Por vezes tinhamos por companhia o mugir de vacas ou o relinchar de cavalos, era um sinal de boas-vindas que aceitavamos de bom agrado.
o sorriso ia crescendo nos nossos rostos e por vezes paravamos para registar estes momentos com fotografias.
A parte inicial do trilho, fazia-se por pequenas quintas agricultadas com produtos de subsistencia local. Aqui e ali viam-se pastos com casas em xisto para recolha do gado.
Depois de umas belas horas de caminhada, sempre a subir, decidimos parar e montar acampamento ... O Sol estava-se a despedir-se de nós e já não conseguiamos progredir mais naquele dia, tinham sido muitas horas de carro e uma noite dormida nos bancos da Kangoo.
Escolhemos uma "varanda" com uma bela vista sobre o vale para montar a tenda. Por detrás de nós estava um pinhal que nos iria proteger do vento.
Elegemos uma rocha como bancada de cozinha e puxamos pelos nossos dotes culinários para preparar a comida liofilizada ... basicamente é aquecer agua e em minutos temos um arroz de caril.
A lua cheia apareceu sobre uma parede montanhosa diante dos nossos olhos; tinhamos o nosso candeeiro natural para iluminar a conversa nocturna.
De noite ainda tivemos a visita de uma raposa que nos roubou o saco do lixo ... coitada não tinha nada que se aproveitasse para comer.
4 de Out.
O Pedro fez-me saber que ressono e pelos vistos muito.
Tomamos o pequeno almoço, desmontamos o acampamento e mais uma vez mochila às costas e prontos para partir.
Iniciamos por um pequeno pinhal, o trilho continuava a subir e assim iamos passo a passo em direcção às 7 lagunas.
Deparamos com um objecto no chão que depois de apanhado, revelou-se ser uma camara fotografica. É sempre chato quando alguem perde algo por estas bandas, imaginamos o dono com a frustação de ver as suas memórias perdidas. Guardamos a maquina e seguimos caminho, quiça pudessemos cruzar com alguem em busca da maquina.
Entramos numa zona de prado verde e com bastante agua, algumas pequenas lagoas e muitos canais de irrigação. Aproveitamos para encher os cantis e colocar as pastilhas de cloro.
Um breve descanso ao sol, olhar para o ceu e observar as nuvens a formar formas que puxavam pela imaginação; continuamos.
o trilho continuava a subir e o sol cada vez aquecia mais. Entramos numa zona de rocha quebrada a meio por uma cascata ... não resistimos a uma breve pausa para fotografias.
Depois de mais umas belas horas de caminhada e de uma ultima subida extenuante, chegamos ao nosso destino, a laguna Hondera. Pousamos as mochilas e respiramos fundo, sentimos o oxigenio puro a encher-nos os pulmões, a vista era regalada com um vale rodeado de montanhas e ao centro uma lagoa de agua verde esmeralda, para completar o cenário, o amarelo do pasto fazia contraste. A Natureza no seu melhor.
Ficamos por uns minutos a contemplar este quadro que custou a ser conquistado mas que valia cada momento de esforço.
O corpo pedia para repôr as forças e como tal recorremos uma vez mais à nossa comida liofilizada, desta vez carne à bolonhesa, juntar agua a ferver e em cinco minutos ... voilá !!!
Depois de um fasto repasto, ouvimos vozes de um casal a descer a encosta que mais tarde nós iriamos ter de subir. Depois de descerem aproximaram-se de nós e após os habituais cumprimentos perguntaram-nos se não tinhamos visto uma maquina fotografica ? ... quando dissemos que sim, não queriam acreditar, os olhos brilhavam, até chegaram a oferecer-nos sandes.
Depois de arrumarmos as nossas coisas, partimos colina acima, ao longe o casal espanhol deleitava-se a tirar fotos juntos à Laguna.
A subida deu-nos acesso a um planalto que no final tinha outra colina por subir ... este percurso era bastante desafiante.
Continuamos em direcção ao Mulhacen, sempre a subir, de vez em quando uma pausa para recuperar folêgo. Finalmente chegamos ao topo e claro tiramos as trdicionais fotos da praxe.
O proximo destino era a Laguna de la Caldera, onde estaria à nossa espera um refugio de Bivac. Finalmente começamos a descer, o que era bom para variar.
A encosta tinha uma inclinação consideravel e bastante cascalho, o que provocava um resvalo aqui e ali, nada do outro mundo. Como estavamos completamente fora do trilho, tivemos que zigazear bastante para achar um caminho que desse para descer, com uma mochila pesada às costas, é cansativo, mas o gozo tambem aumenta ... é exercicio de dor e prazer.
Finalmente chegamos ao refugio de La Caldera. Abrimos a porta e encontramos 1 beliche enorme em madeira, as paredes escritas para imortalizar viajantes que por ali tinham passado. Por uma questão de respeito, decidi não escrever nada ... mais um pouco e aquilo parecia uma estação de metro rasca. Achei piada a um dos dizeres que estava na parede (ver aqui) ... no fundo era um hino à vida, a este tipo de vida simples mas completa.
Aterramos cá fora, deitados no alpendre deixamos o corpo absorver os ultimos suspiros do dia. Os raios de sol eram uma benção e a brisa ligeira massajava as almas destes andarilhos. Facilmente entrei num sonho, não me lembro de que constava mas recordo que sorria.
5 Out.
Durante a noite ouvimos bastantes sons, pareciam rochas a mexer, será que a montanha nos queria engolir ? O estrado de madeira era rijo e as costas sofriam, o sono era intermitente, a noite longa e os ruidos das pedras não paravam.

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