sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Deserto Sarah Abril 2003



Como e quando Foi.

Tenho um carinho especial por esta viagem, não só pela beleza e exotismo do deserto mas porque foi a minha primeira grande viagem de aventura.
A Helena nesta fase ainda não me acompanhava em aventuras, por isso fui sózinho.
A viagem foi organizada pelas rotas do vento; eu não conhecia as outras pessoas do gupo.
Ocorreu em Abril de 2003

Fotos da viagem.

Para ver as fotos carregar aqui.

Detalhes da viagem.

Dia 24 de Abril 2003.

17:45 Aqui estava eu no aeroporto da Portela, a primeira prova estava superada, passar o checkin. Nunca tinha utilizado o meu passaporte e embora este estivesse válido relativamente à data, os dados que nele constam já não eram reais, continuava solteiro e a viver na Costa da Caparica.
Estou sozinho, pelo que pude apurar na fila de checkin o avião vai bastante cheio, observei para tentar desvendar alguém que tivesse ar de ir viajar pelas rotas dos ventos. Estava desconfiado de um trio e estava indeciso em meter ou não conversa.
O voo foi difícil, crianças a chorar, pais a ralhar .
Estava um pouco nervoso pois ainda não tinha contactado ninguém e voava sózinho em direcção a Tunis.
Chegámos, mais uma vez passei pelo controlo policial, quando cheguei cá fora suspirei de alivio pois estava um Tunisino com um cartaz a dizer rotas dos ventos.
Acertei no trio, eles faziam parte da expedição : A Cláudia que viajava sozinha e que pela 1ª vez se aventurava numa coisa deste género, o Alexandre, um veterano já com muitas expedições em cima do corpo, e a Teresa a sua companheira.
Chegou ainda a Antonieta (a meu ver um pouco gorda para este tipo de coisas) e a Benedita da Madeira, que por coincidência conhecia o Alexandre.
Faltava ainda uma pessoa que nunca chegou a aparecer, perdeu o avião devido ao overbooking.
Rumamos num mini autocarro para Tunis, cidade moderna, avenidas largas, nas ruas só avistávamos homens ou não estivéssemos num país muçulmano.
Depois de deixarmos as malas no Hotel fomos passear por Tunis, conhecer um pouco da Capital.
Tive de reparti quarto com a Claudia e a Benedita com a Antonieta, de nada serviu o suplemento individual que tínhamos pago.

25 De Abril 2003.

O dia começou cedo, eram 5 quando tocou o despertador e a Claudia foi para o banho. Às 6 estávamos todos a tomar o pequeno almoço e prontos para ir apanhar o avião para a ilha de Djerba.
A caminho do aeroporto, Claudia descobriu que tinha perdido os bilhetes, isto originou uma pequena confusão, ela teve de correr o aeroporto todo, mas conseguiu apanhar o avião.
O avião era pequeno e com hélices.
Chegamos ao aeroporto de Djerba que está a ser ampliado. Carregamos as malas numa furgoneta e estávamos prontos para partir para Douz, a ultima aldeia antes do deserto.
A maneira de conduzir é irreal, andam depressa e completamente colados ao carro da frente. Em caminho iamos passando por várias aldeias. As casas por pintar, algumas tinham a parte de baixo pronta mas a de cima por construir, tudo com aspecto muito sujo.
Passamos por Matmara , onde estão as casas dos Trogloditas, ou sejam casas que ficam num buraco e que estão escavadas na rocha, muito bonito.
Chegamos a Douz, a fome já apertava, fomos conduzidos para um restaurante onde comemos uma refeição magnifica, cous-cous com carne de cabrito, estava de lamber os dedos.
Douz é uma vila bonita, de comercio e expedições ao deserto, no restaurante onde comemos estavam expostas várias fotos do Rally da Tunisia, onde tinha participado entre outros o Fabrizzio Meoni.
Depois do almoço rumamos a um suk, ou seja o mercado, onde fomos comprar algumas souvenirs e os panos para colocar na cabeça para proteger do calor do deserto (Cheche)
Era hora de partir, apanhamos o jeep que durante 70 KMs, ou seja hora e meia nos conduziu ao deserto. O caminho foi divertido e por momentos sentimos o que é participar no Paris- Dakar.
Chegamos ao acampamento onde esperavam os nossos 3 guias, o Mehid, o Lamine e o Ali.
Quando saimos do carro, a Benedita vacilou um pouco e esteve a ponto de se ir embora, o deserto é assim causa um choque para quem não está preparado, a sua imensidão, o seu calor, o seu aspecto selvagem e duro ... cada vez me sentia mais entusiasmado, era para isto que eu tinha vindo.
Que silêncio, que areia maravilhosa, fina, fina, no final do dia com o pôr do sol parecia ouro.
A magia estava montada.

Dia 26 de Abril de 2003.

A noite foi espectacular, jantar mágico, comida muito boa acompanhado de conversa, chá e musica. O céu que cobria as nossas cabeças era impressionante, nunca vi tanta estrela junta, inclusive viam-se os satélites a passar, estávamos no hotel das 1000 estrelas, como diziam os beduinos.
Custou-me um pouco a adormecer, sentia bichos à minha volta e tinha medo que aparecesse algum escorpião.
Às 4 da manhã apareceu a lua e às 5 era de manhã, incrível, por volta das 5:15 o lamine já tinha a fogueira acesa para fazer pão e aquecer o chá. Por volta das 6:30 já estávamos a andar, a aventura do deserto começava.
Andamos durante 2 horas, o cenário era indescritível, dunas douradas, parecia o mar mas de areia. Tivemos de parar para descansar pois o calor apertava e embora não se notasse estávamos a perder imensos líquidos. No deserto é imperativo beber muito para que o corpo não desidratar.
Por volta das 11:30 paramos para almoçar, não se pode andar mais a partir desta hora pois o calor atinge o seu pico e o calor é fustigante.
Procuramos uma giesta e os guias montaram uma sombra colocando uma manta sobre os ramos da giesta. São incríveis os beduínos que nos acompanhavam, humildes, gentis, uns verdadeiros reis do deserto.
O almoço foi uma sopa de tomate, estava saborosa, repetimos várias vezes. Teminámos com chá verde, forte, forte e com muito açúcar, o corpo agradece.
Era agora a hora da sesta, que é dificultada pela quantidade de moscas insuportáveis que poisavam nos nossos corpos à procura de relaxe.
O meu corpo é um relógio e claro está esteja no deserto ou na cidade, depois de almoço é mais que certo que tenho de “largar lastro”, assim foi, procurei uma duna e aliviei o estômago sobre 40º Centigrados de sol e areia escaldante, memorável.
Iniciamos a marcha, eu e a Cláudia fomos sempre à frente e numa amena cavaqueira. A Antonieta começou a ficar para trás exausta e tivemos de fazer algumas pausas para descansar.
Os nossos guias – Ali, Mehid e o Lamine, decidiram atribuir ao cada um dos membros do nosso grupo nomes árabes, esta foi a distribuição :
Cláudia – Aharlam
Benedita – Saida
Alexandre – Kaled
Teresa – Garda
Antonieta – Leila
Eu – Said


27 de Abril de 2003.

Mais uma noite mágica, o jantar foi fanstástico : Cous-cous (que eu adoro), falamos bastante pela noite dentro, descobrimos que este povo é mesmo fantástico, simples humildes, simpáticos e completamente fascinados pelo deserto, onde se sentem livres e independentes.
Já dormi melhor, mas mesmo assim não consegui dormir a noite toda seguida. Os camelos como não foram recolhidos durante a noite, afastaram-se imenso e de manhã o Ali demorou cerca de uma hora a recolhe-los. Partimos às 6:30 depois de tomar o pequeno almoço e de reabastecer os nossos cantis com agua. A caminhada a esta hora faz-se sem problemas pois está mais fresco, já há bastante luz mas o calor ainda é suportável. De inicio não apanhamos dunas, começamos por apanhar um solo com algum cascalho, o que facilitava a nossa marcha, estavamos a progredir bem e a bom ritmo.
O Lamine decidiu ir rezar e passou-me os camelos para a mão enquanto procurava um sitio sossegado para efectuar as suas preces, tive assim o privilégio de ser um cameleiro durante algum tempo. Os camelos têm um cheiro horroroso, principalmente quando soltam gases, o que é uma constante nestes animais. São contudo uns animais surpreendentes, são resistentes e duros, não é pera doce andar carregado sob o sol intenso e sem beber agua durante vários dias, um bom camelo pode durar 17 anos nesta vida.
Estavamos numa parte árida de solo um pouco rochoso, pelo caminho cruzámos-nos com Argelinos que regressavam ao seu pais, segundo o Mehid, a viagem pode levar 1 mês.
As mulheres vêm à frente com as cabras e homens ficam para trás com os camelos. Encontrámos 3 mulheres, uma delas com um bebé de dias, que coisa incrivel, uma criança recém nascida sob uma calor intenso.
Oferecemos pacotes de bolacha, chocolates,a gua. Todos estes presentes foram bastante apreciados.
Às vezes queixamos da vida dura que temos, mas realmente não conhecemos outras realidades, esta viagem sem duvida que me ajuda a crescer interiormente.
Parámos para almoçar por volta das 11, ajudei a descascar batatas, hoje o almoço foi uma bela salada com o tradicional chá verde.
Mais uma vez depois de almoço fizemos várias tentativas frustradas de dormir sob calor intenso e um batalhão de moscas que não nos largavam.
Iniciamos a caminhada por volta das 16:00, agora sim apanhámos dunas a valer, enormes gigantescas, imponentes. Eu delirava, imaginava-me a surfar num imenso mar, não conseguia parar de sorrir.
Avistámos 2 mesetas ao longe, que embora parecessem perto, estavam a 4 dias de viagem.
Acampámos por volta das 18:30, quando o sol começava a desaparecer. Depois de paramos eu e o Alexandre iamos procurar lenha para a fogueira.

28 de Abril de 2003.

Hoje foi o dia que iniciamos a caminhada mais tarde, durante a noite os camelos afastaram-se bastante e foram até um poço beber agua, poço esse para onde nos iamos dirigir.
Apanhamos estepe pelo caminho, o que imprimia um bom ritmo à caravana , rapidamente chegamos ao poço. Confesso que imaginava outra coisa, o poço era um buraco no chão. Os camelos foram os primeiros a beber, depois enchemos os Jericans que estes transportavam. Enquanto permaneciamos no poço iam aparecendo argelinos com os seus rebanhos de cabritos.
Eram duas famílias, com as respectivas mulheres e crianças.
Decidimos comprar um cabrito para o jantar e como tal iniciamos as negociações, sim porque no deserto também se regateia. Os Argelinos como viram que nós eramos turistas acabaram por vender o cabrito um pouco mais caro que o normal, esta gente tem tão pouco que não custa nada dar-lhes um pouco de dinheiro para os alegrar. Escolhemos o cabrito e seguimos viagem
O Mehid foi montado no dromedário com o cabrito a seu colo.
Depois do poço começou a estepe, a meio do caminho chegamos a umas mesetas onde fizemos uma breve pausa, eu e Alexandre decidimos subi-las para ver como era a vista. Incrível, pudemos apreciar a imensidão do deserto.
Por volta das 11:30 parámos para almoçar, mais uma vez uma bela salada. Tentamos dormir mas as moscas não davam tréguas.
À noite preparou-se o cabrito e foi dos melhores jantares que tivemos, o cabrito (grelhado) estava mesmo bom, acompanhado de um belo macarrão. Todos concordámos num ponto, faltava o vinho.
Hoje finalmente esbocei um banho, passei a cabeça por agua e lavei o resto do corpo com dodots, sentia-me outro.

29 de Abril 2003.

Eu e a Antonieta levantamos-nos às 5 da manhã para comer os miolos do cabrito, confesso que estava à espera de melhor.
Ali apareceu com os camelos por volta das 6, tomamos o pequeno almoço e seguimos marcha.
Apanhamos bastantes dunas e o sol estava abrasador, foi bastante dura esta manhã.
Finalmente vi um escorpião, era pequeno mas tinha um ar agressivo.
Após uma grande estirada avistamos estepe e foi ai que parámos para almoçar. As giestas escasseavam e como tal tivemos de montar a tenda para ter sombra.
Depois de almoço dormimos. O Mehid apareceu a meio da tarde para irmos ver uma cobras bastante venenosas, aparentemente estavam a dormir ao pé do Ali ... que perigo, bastava uma mordida e seria morte imediata.
Claro que as raparigas não quiseram ir ver.
Começamos a andar novamente, a jornada da tarde foi muito dura, o calor cada vez parecia mais. Hoje a Maria faz 1 ano e meio e eu não vou poder estar com ela, mas tenho-a sempre dentro de mim.
Depois de atravessar uma zona de estepe com umas lagartas enormes e cheias de cor, avistámos o Oasis ao fundo ... que espectaculo, era enorme, será que iamos chegar hoje ?
Apanhamos novamente dunas, e o dia começava a pôr-se, a Antonieta e a Benedita estavam bastante para trás, como tal decidi atrasar-me para assegurar que elas não se perdiam.
Quando as encontrei notei que estavam bastante cansadas e revoltadas por estarmos a andar tanto.
Começaram a pôr em causa as decisões do Mehid. Eu confiava nele, o seu conhecimento do deserto era incomparável, assim como a escolha dos sitios para acampar. Finalmente chegamos ao acampamento e a Antonieta estava bastante ofendida com ele e infelizmente não jantou connosco, foi uma cena triste.
À noite fizemos uma grande festa, era a ultima noite, cantamos e dançamos mas notava-se que os guias estavam perturbados relativamente à atitude da Antonieta.

30 de Abril de 2003.

Era a ultima manhã, tomamos o pequeno almoço ... ia sentir saudades daquele pão fantástico.
Montamos no camelo para a típica fotografia.
Iniciamos a marcha em direcção ao Oasis, foi 15 minutos de caminho, finalmente iamos tomar banho.
A despedida dos guias foi de cortar o coração, vou sentir a falta desta gente tão simpática e humilde.
Finalmente agua, banho, uma lagoa de agua quente, o corpo agradeceu ...
Não estivemos mais de uma hora no Oasis e seguimos caminho para Djerba, a meio parámos para almoçar num sitio espectacular, um antigo sitio onde se guardavam cereais, as casa eram escavadas dentro da rocha.
O almoço dos 6 heróis.
Seguimos caminho para Djerba onde fomos às compras, negociar, negociar, negociar. O hotel onde ficámos era um espanto, muito típico. Depois do banho e de uma bela soneca, fomos para a rua gastar dirames.

1 de Maio 2003.

Apanhamos o avião e fomos para Tunis, como o vôo para Lisboa só seriam 3 horas após a nossa chegada a Tunis, decidimos ir a Sid Bussain, que é uma vila a 25 minutos de Tunis, linda, linda. As paredes todas brancas e as portas azuis e todas trabalhadas, parecia a cidade do Ali-bábá.

Cheguei a casa contente e cheio de histórias para contar e imagens para recordar, venha a próxima...

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